Dentifrícios: de cosméticos a agentes preventivos
Desde a descoberta, na década de 1960, do mecanismo tópico de ação do flúor, os dentifrícios passaram de meros cosmé-ticos a agentes de prevenção. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os brasileiros con-somem, em média, 508 gramas de creme dental per capita – um dos melhores índices em nível mundial. Analisando-se o consumo ao longo dos anos – em 1981, era de 212 gramas per capita –, a tendência é que o uso de dentifrício no País aumente, mas para benefício da saúde bucal é essencial que os profissionais da Odontologia acompanhem o que dizem a lei e a ciência sobre o assunto. Os cremes dentais representam 66% na composição do faturamento por categoria (dados de 2005/Instituto Euromonitor), enquanto o chamado oral care brasileiro ocupa o quarto lugar no ranking mundial.
A primeira norma brasileira sobre dentifrícios foi elaborada em 1989. A portaria 22 da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde trata do produto fazendo referência, entre outros aspectos, às suas concentrações de flúor e aos compostos fluoretados aceitos, mas não determina a obrigatoriedade da adição do componente. Apesar disso, os produtos disponíveis no mercado costumam ter níveis de flúor entre 500 e 1.500 ppm (partes por milhão), sendo os de índice mais baixo indicados para crianças, devido ao risco de fluorose. Também são encontrados cremes dentais sem flúor, e cabe ao cirurgião-dentista orientar o paciente sobre o uso por pacientes com fluorose.
Qualidade atestada
Para o diretor do Departamento de Avaliação de Produtos Odontológicos (Dapo) da ABO, Heitor Panzeri, “no Brasil já existe uma consciência bem estabelecida, em especial entre os cirurgiões-dentistas, da importância dos produtos fluoretados na prevenção à cárie e dos riscos que eles representam”. Responsável por análises e pesquisas de produtos, incluindo embalagens e informações ao consumidor, é o Dapo que emite o Selo de Qualidade ABO, promovendo a certificação e a normalização de produtos e equipamentos odontológicos brasileiros. Até o início do mês de junho, 263 produtos possuíam o selo em sua embalagem, sendo que 108 deles são dentifrícios. Completam o total 83 escovas dentais, 33 enxagüatórios, 19 fios dentais, 18 balas e chicletes e dois limpadores de língua.

Selo dado pela ABO: qualidade
O trabalho realizado pelo Dapo revolucionou os mecanismos de análise em higiene oral ao desenvolver equipamentos para novos tipos de ensaios, específicos para as necessidades do mercado nacional, e garantindo precisão, autenticidade e confiabilidade aos resultados obtidos. O processo de normalização da ABO segue um programa internacional, cujas diretrizes emanam do Comitê Técnico de Odontologia da Organização Mundial de Normalização (ISO/TC-106, da sigla em inglês), órgão responsável pela normalização de produtos odontológicos mundialmente.
O Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) também tem critérios pró-prios de análise de dentifrícios, considerando os seguintes documen-tos: portaria 71, de 29 de maio de 1996, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, que apresenta as informações indispen-sáveis que devem constar nas embalagens dos dentifrícios; ISO 11.609, de dezembro de 1995, que estabelece os parâmetros e os métodos de ensaio para verificar as propriedades físicas e químicas e a rotulagem de cremes dentais; portaria 21, de 25 de outubro de 1989, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, que estabelece requisitos para assegurar a qualidade e a eficácia dos cremes dentais; e Microbiology Guidelines, da Cosmetic, Toiletry and Fragrance Association (CTFA), de janeiro de 1993, que estabelece os parâmetros microbiológicos para cosméticos e produtos de toalete.
Inovações à vista
Uma revolução para os dentifrícios pode estar vindo do outro lado do mundo. Um grupo de pesquisadores japoneses, do Instituto Tecnológico de Tóquio, anunciou o desenvolvimento de um produto que ataca a cárie sem que o paciente precise enfrentar brocas e obturações. Segundo publicado pela revista Nature, trata-se de um esmalte sintético que pode ser usado como creme dental e que reconstrói dentes fraturados, recuperando os locais prejudicados e ajudando a prevenir novos danos. Porém, o dentifrício ainda não está completamente pronto, e os pesquisadores precisam descobrir uma maneira de evitar que a alta concentração de peróxido de hidrogênio cause inflamações nas gengivas.
Outra novidade já está nas prateleiras brasileiras. Para casos extremos de cárie e desmineralização dos dentes, a Colgate lançou, recentemente, um dentifrício com níveis superiores de flúor, 5.000 ppm. Por conta disso, a recomendação é que o produto seja utilizado uma vez por dia. O novo dentifrício, chamado de Prevident® 5000, já está à venda somente em farmácias.

Nova geração
Mas não é só a quantidade de flúor que determina a qualidade do dentifrício. O pH é uma das características mais importantes do produto, e, de acordo com as normas internacionais, deve estar dentro de uma faixa considerada de segurança que vai de 4,5 a 10,5. Para isso, os ingredientes que compõem o creme dental não devem estar presentes em concentração capaz de causar reações tóxicas ou alérgicas quando em contato com a cavidade bucal. O dentifrício também não deve, dentro do prazo de validade estipulado pelo fabricante, apresentar indícios de fermentação ou deterioração quando submetido a con-dições normais de uso e armazenamento.
Fonte: Jornal da ABO nº 113 – maio/junho 2008