testeApostando na promoção da saúde e investindo na formação do cirurgião-dentista, a Odontologia de Hong Kong supera décadas de atraso e coloca a região no ranking dos melhores índices mundiais de saúde bucal
Detentora do quarto maior Produto Interno Bru-to (PIB) do mundo, a China, terceiro maior país em transações comerciais e com projeção de 10,8% de crescimento econômico para 2008, experimenta um tipo de desenvolvimento preda-dor e gerador de desigualdades cada vez maio-res. A despeito dos problemas sociais enfrentados pelo país, a região administrativa especial de Hong Kong, antiga colônia britânica agora administrada pela República Popular da China, aposta na promoção da saúde e dá exemplos de como democratizar o acesso à saúde bucal, figurando entre os países com os melhores índices do setor.
Nem sempre foi assim. Em entrevista à Revista ABO Nacional em 1996, o médico chinês C. H. Leong, de Hong Kong, lamentou por apenas 43% da população adulta do território se consultar com cirurgião-dentista ao menos uma vez por ano. Nessa mesma época, o CPOD para crianças com cinco anos de idade era de 3.2, sendo que apenas 37% delas estavam livres de cáries. Passaram-se 12 anos desde então e, segundo pesquisa realizada pelo Departamento de Saúde do governo chinês em 2001, o status da saúde bucal da população de Hong Kong apresentou melhoras significativas, com 49% das crianças de cinco anos de idade livres de cárie, sendo que o CPOD na mesma faixa etária caiu para 2.3. Para o cirurgião-dentista chinês Joseph Chan, coordenador de Saúde Bucal de Hong Kong, “a saúde bucal da população local está caminhando para figurar entre as melhores do mundo”.

Joseph Chan, coordenador de Saúde Bucal de Hong Kong
Promoção da saúde
A melhora, segundo Chan, deve-se aos investimentos em programas de promoção da saúde bucal realizados nos últimos anos. “O poder público em Hong Kong reconheceu, a tempo, que a saúde bucal é essencial para a saúde integral e o bem-estar de qualquer indivíduo. Nossa política de saúde bucal tem como base a promoção da higiene oral, a conscientização da comuni-dade e a democratização do acesso aos serviços odontoló-gicos.” Em Hong Kong, o atendimento odontológico para a maioria da população é fornecido pela iniciativa privada, enquanto o governo se ocupa da população mais pobre com direito a serviços e apoio financeiro para os cuidados dentários nas regiões economicamente desfavorecidas, através do Sistema Global de Assistência Social e Segurança (CSSA, na sigla em inglês).
O Departamento de Saúde local fornece cuidados primários de saúde bucal para todas as crianças das escolas primárias de Hong Kong, ajudando-as a desenvolver hábitos de boa higiene bucal desde a infância. Também com este objetivo, o governo de Hong Kong realizou, no dia 20 de setembro de 2003, o Dia do Amor ao Dente, difundindo a higiene oral em todo o território através de campanha de conscientização popular, com mensagens sendo veiculadas nos meios de comunicação locais.
As transformações foram tão perceptíveis que a China acom-panhou as novidades implementadas por Hong Kong. Oficiais do governo foram mobilizados para colocar o tópico da educação em saúde bucal na pauta da saúde, e foram incentivados a desenvolver um plano de trabalho para assistência odontológica. O ministro da Saúde da China desenvolveu uma proposta de criação de uma organização para supervisionar as iniciativas de educação em saúde bucal. A proposta foi aprovada, e, em 1988, nasceu o Comitê Nacional de Saúde Bucal, chefiado por oficiais de alto escalão do Ministério da Saúde e diversos reitores de faculdades de Odontologia reconhecidas da China, composto por especialistas de todas as partes do mundo. Paralelamente, milhares de cirurgiões-dentistas se dedicaram a promover a saúde bucal em suas comunidades, em escolas, fronteiras, áreas rurais e na mídia.
Aprendendo com os problemas
Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento também são apontados por Chan como responsáveis pela evolução da Odontologia de Hong Kong e a melhoria da saúde bucal da população. A Faculdade de Odontologia da Universidade de Hong Kong foi criada há pouco mais de duas décadas, com equipe internacional que conferiu à teoria e à prática odontológica de Hong Kong uma visão multifacetada da área. O corpo discente também é formado por estudantes de vários países. “No entanto, nosso maior diferencial é a competência em Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL, na sigla em inglês), programa desenvolvido em Hong Kong que tem produzido um novo tipo de cirurgião-dentista, preparado para a realidade da nossa população”, orgulha-se Chan. Atualmente, a faculdade conta com mais de cem estudantes de pós-graduação.
A formação em Odontologia na região também conta com Universidade de Cirurgiões-dentistas de Hong Kong, que, segundo Chan, tem como principais objetivos “promover o benefício público para o avanço do conhecimento na área de cirurgia dentária e suas disciplinas associadas; agir como um abalizado corpo para fins de consulta sobre assuntos de interesse público ou educacionais relativos à Odontologia; e promover a formação e a investigação na área”. A entidade tem trabalhos em oito especialidades: Ortodontia, Odontopediatria, Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Endodontia, Perio-dontia, Prótese Dentária, Odontologia da Família e Odontologia Comunitária.
Desafios
Embora a saúde bucal da população de Hong Kong tenha apresentado melhorias ao longo dos anos, a pesquisa realizada pelo Departamento de Saúde local em 2001 também mostrou que a cárie e a doença periodontal ainda são ameaças iminentes. Segundo os resultados da pesquisa, o nível das duas doenças continuava a aumentar com a idade, sendo que o risco de desenvolvimento de doença periodontal começa a ser perceptível aos 12 anos. Além disso, a perda dentária continua sendo intensa em adultos e anciãos, e a presença de cálculo foi constatada com freqüência.

Conscientização da população
Chan enfatiza que todos os programas de saúde bucal são avaliados, periodicamente, quanto à sua eficácia, e que melhorias estão sendo estudadas e implementadas para que os problemas que ainda persistem sejam superados. “Foi um longo caminho até que a população de Hong Kong pudesse ter perspectivas de melhora na sua saúde bucal, e ainda temos muito a fazer, na certeza de que estamos no caminho certo”, anima-se.
Fonte: Jornal da ABO nº 114 – junho/agosto 2008
Apostando na promoção da saúde e investindo na formação do cirurgião-dentista, a Odontologia de Hong Kong supera décadas de atraso e coloca a região no ranking dos melhores índices mundiais de saúde bucal
Detentora do quarto maior Produto Interno Bru-to (PIB) do mundo, a China, terceiro maior país em transações comerciais e com projeção de 10,8% de crescimento econômico para 2008, experimenta um tipo de desenvolvimento preda-dor e gerador de desigualdades cada vez maio-res. A despeito dos problemas sociais enfrentados pelo país, a região administrativa especial de Hong Kong, antiga colônia britânica agora administrada pela República Popular da China, aposta na promoção da saúde e dá exemplos de como democratizar o acesso à saúde bucal, figurando entre os países com os melhores índices do setor.
Nem sempre foi assim. Em entrevista à Revista ABO Nacional em 1996, o médico chinês C. H. Leong, de Hong Kong, lamentou por apenas 43% da população adulta do território se consultar com cirurgião-dentista ao menos uma vez por ano. Nessa mesma época, o CPOD para crianças com cinco anos de idade era de 3.2, sendo que apenas 37% delas estavam livres de cáries. Passaram-se 12 anos desde então e, segundo pesquisa realizada pelo Departamento de Saúde do governo chinês em 2001, o status da saúde bucal da população de Hong Kong apresentou melhoras significativas, com 49% das crianças de cinco anos de idade livres de cárie, sendo que o CPOD na mesma faixa etária caiu para 2.3. Para o cirurgião-dentista chinês Joseph Chan, coordenador de Saúde Bucal de Hong Kong, “a saúde bucal da população local está caminhando para figurar entre as melhores do mundo”.

Joseph Chan, coordenador de Saúde Bucal de Hong Kong
Promoção da saúde
A melhora, segundo Chan, deve-se aos investimentos em programas de promoção da saúde bucal realizados nos últimos anos. “O poder público em Hong Kong reconheceu, a tempo, que a saúde bucal é essencial para a saúde integral e o bem-estar de qualquer indivíduo. Nossa política de saúde bucal tem como base a promoção da higiene oral, a conscientização da comuni-dade e a democratização do acesso aos serviços odontoló-gicos.” Em Hong Kong, o atendimento odontológico para a maioria da população é fornecido pela iniciativa privada, enquanto o governo se ocupa da população mais pobre com direito a serviços e apoio financeiro para os cuidados dentários nas regiões economicamente desfavorecidas, através do Sistema Global de Assistência Social e Segurança (CSSA, na sigla em inglês).
O Departamento de Saúde local fornece cuidados primários de saúde bucal para todas as crianças das escolas primárias de Hong Kong, ajudando-as a desenvolver hábitos de boa higiene bucal desde a infância. Também com este objetivo, o governo de Hong Kong realizou, no dia 20 de setembro de 2003, o Dia do Amor ao Dente, difundindo a higiene oral em todo o território através de campanha de conscientização popular, com mensagens sendo veiculadas nos meios de comunicação locais.
As transformações foram tão perceptíveis que a China acom-panhou as novidades implementadas por Hong Kong. Oficiais do governo foram mobilizados para colocar o tópico da educação em saúde bucal na pauta da saúde, e foram incentivados a desenvolver um plano de trabalho para assistência odontológica. O ministro da Saúde da China desenvolveu uma proposta de criação de uma organização para supervisionar as iniciativas de educação em saúde bucal. A proposta foi aprovada, e, em 1988, nasceu o Comitê Nacional de Saúde Bucal, chefiado por oficiais de alto escalão do Ministério da Saúde e diversos reitores de faculdades de Odontologia reconhecidas da China, composto por especialistas de todas as partes do mundo. Paralelamente, milhares de cirurgiões-dentistas se dedicaram a promover a saúde bucal em suas comunidades, em escolas, fronteiras, áreas rurais e na mídia.
Aprendendo com os problemas
Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento também são apontados por Chan como responsáveis pela evolução da Odontologia de Hong Kong e a melhoria da saúde bucal da população. A Faculdade de Odontologia da Universidade de Hong Kong foi criada há pouco mais de duas décadas, com equipe internacional que conferiu à teoria e à prática odontológica de Hong Kong uma visão multifacetada da área. O corpo discente também é formado por estudantes de vários países. “No entanto, nosso maior diferencial é a competência em Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL, na sigla em inglês), programa desenvolvido em Hong Kong que tem produzido um novo tipo de cirurgião-dentista, preparado para a realidade da nossa população”, orgulha-se Chan. Atualmente, a faculdade conta com mais de cem estudantes de pós-graduação.
A formação em Odontologia na região também conta com Universidade de Cirurgiões-dentistas de Hong Kong, que, segundo Chan, tem como principais objetivos “promover o benefício público para o avanço do conhecimento na área de cirurgia dentária e suas disciplinas associadas; agir como um abalizado corpo para fins de consulta sobre assuntos de interesse público ou educacionais relativos à Odontologia; e promover a formação e a investigação na área”. A entidade tem trabalhos em oito especialidades: Ortodontia, Odontopediatria, Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Endodontia, Perio-dontia, Prótese Dentária, Odontologia da Família e Odontologia Comunitária.
Desafios
Embora a saúde bucal da população de Hong Kong tenha apresentado melhorias ao longo dos anos, a pesquisa realizada pelo Departamento de Saúde local em 2001 também mostrou que a cárie e a doença periodontal ainda são ameaças iminentes. Segundo os resultados da pesquisa, o nível das duas doenças continuava a aumentar com a idade, sendo que o risco de desenvolvimento de doença periodontal começa a ser perceptível aos 12 anos. Além disso, a perda dentária continua sendo intensa em adultos e anciãos, e a presença de cálculo foi constatada com freqüência.

Conscientização da população
Chan enfatiza que todos os programas de saúde bucal são avaliados, periodicamente, quanto à sua eficácia, e que melhorias estão sendo estudadas e implementadas para que os problemas que ainda persistem sejam superados. “Foi um longo caminho até que a população de Hong Kong pudesse ter perspectivas de melhora na sua saúde bucal, e ainda temos muito a fazer, na certeza de que estamos no caminho certo”, anima-se.
Fonte: Jornal da ABO nº 114 – junho/agosto 2008