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9/5/2025
 
Matéria

- Geral
O futuro em uma célula

teste

Aplicação clínica das células-tronco é apontada como um dos principais avanços da Odontologia e da Medicina no futuro. E o Brasil está participando das pesquisas que buscam regenerar um dente por inteiro, além de tecidos do complexo maxilofacial

São diversas as áreas da Odontologia promissoras no desenvolvimento de inovações tecnológicas, que resultarão em novas ferramentas e em promoção de saúde e qualidade de vida para a população. Mas uma em especial tem despontado como um dos principais recursos terapêuticos da Odontologia para o futuro. É a pesquisa com células-tronco, que, associada a técnicas de engenharia tecidual, usa o conhecimento da Biologia e da Engenharia para construir substitutos biológicos, através da diferenciação celular em diversos tecidos, que formarão novas estruturas originais, como dentes, por exemplo, possibilitando uma nova terceira dentição.

Pesquisadores brasileiros estão acompanhando e participando destas evoluções, desenvolvendo estudos relevantes na área, como o que é realizado no Centro Interdisciplinar de Terapia Gênica (Cintergen) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), pelos cirurgiões-dentistas Monica Talarico Duailibi e Silvio Eduardo Duailibi, pesquisadores da Disciplina de Cirurgia Plástica da universidade, em parceria com a Tufts University e o Massachusetts General Hospital, dos Estados Unidos, e sob supervisão dos pesquisadores Pamela C. Yelick e Joseph P. Vacanti. A importância dos resultados já alcançados na pesquisa chamou a atenção de agências de fomento do Brasil e do exterior, que também direcionaram recursos para os próximos estudos. São elas a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o National Institute of Health (NIH), dos Estados Unidos.


CD pesquisadora Monica Talarico Dualibi

O estudo foi iniciado em 2001, durante o doutorado do casal Du­ailibi, realizado parte na Unifesp e parte no Instituto Forsyth – Harvard (EUA) e que possibilitou aos pesquisadores um amplo conhecimento em engenharia tecidual. Ao final do doutorado, as teses, apresentadas no Brasil, demonstraram a possibilidade de criar dentes, total e parcialmente, e outros tecidos do complexo maxilofacial a partir de células-tronco adultas. Silvio ainda explica: “A idéia do estudo é utilizar células autólogas, ou seja, que doador e receptor sejam o mesmo indivíduo. Isto evitaria problemas de rejeição ou de incompatibilidade imunológica”.

Monica completa que algumas possibilidades futuras são, por exemplo, obturar um canal com células-tronco diferenciadas e associadas a um biopolímero, regenerando a vitalidade do elemento, ou devolver um dente biológico no lugar do perdido com material do próprio indivíduo. Estes implantes biológicos utilizarão procedimentos cirúrgicos semelhantes ao dos utilizados com os metálicos.

Os pesquisadores ainda esclarecem que a técnica não objetiva reparar um dano, e sim regenerar o tecido ou o órgão criando substitutos biológicos e gerando novamente sua estrutura e funcionalidade.

O caminhar paciente da pesquisa

O estudo começou com a extração de células de porcos e sua implantação em ratos sem imunidade, para não ocorrer rejeição. Depois, foram usados somente ratos com a mesma característica genética (mesma singeneicidade), demonstrando que doador e receptor poderiam ser o mesmo indivíduo. Esta etapa foi bem-sucedida, com o desenvolvimento de dentes no abdômen dos ratos após 12 semanas. “Obtivemos o desenvolvimento da coroa bem definida, mas pouco desenvolvimento dos tecidos de sustentação, ou seja, da raiz”, conta Monica.

O passo seguinte a este resultado foi transferir a mesma metodologia para o desenvolvimento dos tecidos dentais na mandíbula dos ratos, para buscar uma situação de similaridade, já que é a área onde os dentes erupcionam. Atualmente, os pesquisadores estão observando os avanços deste experimento. “Estamos aferindo a qualidade e quantidade das células e dos tecidos. Está sendo estudada a estabilidade genômica destas células, que é a saúde do DNA delas, para evitar que saiam do caminho correto e desenvolvam tumores, por exemplo”, explicam os pesquisadores. 

Eles completam que a qualidade e quantidade das células devem ser observadas, pois também sofrem variação nos diferentes estágios de desenvolvimento do dente. É preciso ainda estudar a interação entre as células e as matrizes poliméricas, ou scaffolds, estrutura em que os novos tecidos são reorganizados para a formação do dente, e o tempo de bio­de­gradabilidade do material.

O estágio pré-clínico da pesquisa agora tende a caminhar para a obtenção da orientação e forma desejadas dos elementos dentais e para entender o que acontece com as células humanas, manipuladas a partir do método aplicado. Muitos passos ainda devem ser dados na pesquisa em direção a resultados seguros e aplicáveis em pessoas, mas Silvio e Monica comemoram os resultados positivos já obtidos: “Já sabemos que é possível regenerar os cinco tecidos dos dentes, pois eles já foram identificados”.

A pesquisa desenvolvida pela dupla também estuda, além de dentes, a regeneração de ossos e cartilagens, ou seja, de todas as estruturas do complexo maxilofacial. Assim, eles esperam que a técnica com que trabalham possa ter uma aplicação mais ampla, com a diferenciação das células-tronco em vários outros tipos de tecidos.

Com o olhar lá no futuro

Questionado sobre quanto tempo a pesquisa ainda deve durar até seus resultados tornarem-se práticos para a clínica odontológica, Silvio Duailibi diz não saber. Mas não por motivos estritamente científicos: “O investimento recebido é que vai determinar o tempo de pesquisa ainda necessário”.


CD pesquisador Silvio Eduardo Dualibi

Embora existam incertezas como esta, de uma coisa os pesquisadores têm certeza: as células-tronco são o futuro da Odontologia. “E não são o futuro só da Odontologia, mas também da Medicina Regenerativa. Serão novas alternativas terapêuticas para solução das seqüelas de diversas doenças, de diferentes etiologias, anatômicas, traumáticas, congênitas ou resultado de tumores, com a regeneração total ou parcial das estruturas envolvidas”, diz Monica.

E Silvio completa: “Essa nova ferramenta vai fazer com que o cirurgião-dentista busque a integração com outras áreas do conhecimento e que, assim como ele tem hoje um laboratório de prótese como seu fornecedor, vai ter também, no futuro, um laboratório de terapia celular”.

Fonte: Revista ABO Nacional – Edição 90 - Vol. XVI nº 3 Jun/Jul 2008

Aplicação clínica das células-tronco é apontada como um dos principais avanços da Odontologia e da Medicina no futuro. E o Brasil está participando das pesquisas que buscam regenerar um dente por inteiro, além de tecidos do complexo maxilofacial

São diversas as áreas da Odontologia promissoras no desenvolvimento de inovações tecnológicas, que resultarão em novas ferramentas e em promoção de saúde e qualidade de vida para a população. Mas uma em especial tem despontado como um dos principais recursos terapêuticos da Odontologia para o futuro. É a pesquisa com células-tronco, que, associada a técnicas de engenharia tecidual, usa o conhecimento da Biologia e da Engenharia para construir substitutos biológicos, através da diferenciação celular em diversos tecidos, que formarão novas estruturas originais, como dentes, por exemplo, possibilitando uma nova terceira dentição.

Pesquisadores brasileiros estão acompanhando e participando destas evoluções, desenvolvendo estudos relevantes na área, como o que é realizado no Centro Interdisciplinar de Terapia Gênica (Cintergen) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), pelos cirurgiões-dentistas Monica Talarico Duailibi e Silvio Eduardo Duailibi, pesquisadores da Disciplina de Cirurgia Plástica da universidade, em parceria com a Tufts University e o Massachusetts General Hospital, dos Estados Unidos, e sob supervisão dos pesquisadores Pamela C. Yelick e Joseph P. Vacanti. A importância dos resultados já alcançados na pesquisa chamou a atenção de agências de fomento do Brasil e do exterior, que também direcionaram recursos para os próximos estudos. São elas a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o National Institute of Health (NIH), dos Estados Unidos.


CD pesquisadora Monica Talarico Dualibi

O estudo foi iniciado em 2001, durante o doutorado do casal Du­ailibi, realizado parte na Unifesp e parte no Instituto Forsyth – Harvard (EUA) e que possibilitou aos pesquisadores um amplo conhecimento em engenharia tecidual. Ao final do doutorado, as teses, apresentadas no Brasil, demonstraram a possibilidade de criar dentes, total e parcialmente, e outros tecidos do complexo maxilofacial a partir de células-tronco adultas. Silvio ainda explica: “A idéia do estudo é utilizar células autólogas, ou seja, que doador e receptor sejam o mesmo indivíduo. Isto evitaria problemas de rejeição ou de incompatibilidade imunológica”.

Monica completa que algumas possibilidades futuras são, por exemplo, obturar um canal com células-tronco diferenciadas e associadas a um biopolímero, regenerando a vitalidade do elemento, ou devolver um dente biológico no lugar do perdido com material do próprio indivíduo. Estes implantes biológicos utilizarão procedimentos cirúrgicos semelhantes ao dos utilizados com os metálicos.

Os pesquisadores ainda esclarecem que a técnica não objetiva reparar um dano, e sim regenerar o tecido ou o órgão criando substitutos biológicos e gerando novamente sua estrutura e funcionalidade.

O caminhar paciente da pesquisa

O estudo começou com a extração de células de porcos e sua implantação em ratos sem imunidade, para não ocorrer rejeição. Depois, foram usados somente ratos com a mesma característica genética (mesma singeneicidade), demonstrando que doador e receptor poderiam ser o mesmo indivíduo. Esta etapa foi bem-sucedida, com o desenvolvimento de dentes no abdômen dos ratos após 12 semanas. “Obtivemos o desenvolvimento da coroa bem definida, mas pouco desenvolvimento dos tecidos de sustentação, ou seja, da raiz”, conta Monica.

O passo seguinte a este resultado foi transferir a mesma metodologia para o desenvolvimento dos tecidos dentais na mandíbula dos ratos, para buscar uma situação de similaridade, já que é a área onde os dentes erupcionam. Atualmente, os pesquisadores estão observando os avanços deste experimento. “Estamos aferindo a qualidade e quantidade das células e dos tecidos. Está sendo estudada a estabilidade genômica destas células, que é a saúde do DNA delas, para evitar que saiam do caminho correto e desenvolvam tumores, por exemplo”, explicam os pesquisadores. 

Eles completam que a qualidade e quantidade das células devem ser observadas, pois também sofrem variação nos diferentes estágios de desenvolvimento do dente. É preciso ainda estudar a interação entre as células e as matrizes poliméricas, ou scaffolds, estrutura em que os novos tecidos são reorganizados para a formação do dente, e o tempo de bio­de­gradabilidade do material.

O estágio pré-clínico da pesquisa agora tende a caminhar para a obtenção da orientação e forma desejadas dos elementos dentais e para entender o que acontece com as células humanas, manipuladas a partir do método aplicado. Muitos passos ainda devem ser dados na pesquisa em direção a resultados seguros e aplicáveis em pessoas, mas Silvio e Monica comemoram os resultados positivos já obtidos: “Já sabemos que é possível regenerar os cinco tecidos dos dentes, pois eles já foram identificados”.

A pesquisa desenvolvida pela dupla também estuda, além de dentes, a regeneração de ossos e cartilagens, ou seja, de todas as estruturas do complexo maxilofacial. Assim, eles esperam que a técnica com que trabalham possa ter uma aplicação mais ampla, com a diferenciação das células-tronco em vários outros tipos de tecidos.

Com o olhar lá no futuro

Questionado sobre quanto tempo a pesquisa ainda deve durar até seus resultados tornarem-se práticos para a clínica odontológica, Silvio Duailibi diz não saber. Mas não por motivos estritamente científicos: “O investimento recebido é que vai determinar o tempo de pesquisa ainda necessário”.


CD pesquisador Silvio Eduardo Dualibi

Embora existam incertezas como esta, de uma coisa os pesquisadores têm certeza: as células-tronco são o futuro da Odontologia. “E não são o futuro só da Odontologia, mas também da Medicina Regenerativa. Serão novas alternativas terapêuticas para solução das seqüelas de diversas doenças, de diferentes etiologias, anatômicas, traumáticas, congênitas ou resultado de tumores, com a regeneração total ou parcial das estruturas envolvidas”, diz Monica.

E Silvio completa: “Essa nova ferramenta vai fazer com que o cirurgião-dentista busque a integração com outras áreas do conhecimento e que, assim como ele tem hoje um laboratório de prótese como seu fornecedor, vai ter também, no futuro, um laboratório de terapia celular”.

Fonte: Revista ABO Nacional – Edição 90 - Vol. XVI nº 3 Jun/Jul 2008

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