testeÁrea de origem recente e ainda pouco explorada por cirurgiões-dentistas, a Anaplastologia tem ajudado o protesista bucomaxilofacial a reabilitar vidas, devolvendo a auto-estima a pacientes que perderam partes do rosto
Portadores de deformidades faciais devido a traumas, remoções cirúrgicas ou doenças congênitas têm experimentado o resgate de sua auto-estima graças a uma área da Odontologia que, de origem recente e ainda pouco explorada pelo cirurgião-dentista, tem impulsionado a CTBMF para o futuro com maior velocidade: a Anaplastologia, arte e ciência de restaurar partes ausentes ou malformadas do corpo humano através de meios artificiais, permitindo que os portadores de deformidades possam ser reintegrados à sociedade.
O alto grau de complexidade dos casos e a falta de tratamento adequado nas instituições responsáveis pela reabilitação de portadores de deformidades faciais motivaram o implantodontista e anaplastodontista Marcelo Ferraz de Oliveira, formado pelo Branemark Osseointregration Center, em Gotemburgo (Suécia), a desbravar a Anaplastologia quando a área ainda era vista como ficção científica. “Tenho trabalhado com Anaplastologia há 16 anos, e me sinto extremamente motivado a tentar melhorar a qualidade deste tratamento, bem como capacitar mais profissionais para que mais pessoas possam se beneficiar dele”, afirma. Com essa finalidade, Oliveira defende o envolvimento dos cirurgiões bucomaxilofaciais, responsáveis pelas cirurgias de instalação dos implantes osseointegrados sobre os quais são ancorados os componentes retentores das próteses. “Acredito que, no futuro, essa parceria seja ainda mais forte, uma vez que este tratamento, até então abandonado pelo poder público, vem demonstrando grande benefício e melhora tremenda na qualidade de vida dos pacientes reabilitados com próteses faciais implanto-suportadas”, anima-se Oliveira.

Anaplastodontista Marcelo Ferraz de Oliveira
A Anaplastologia, ainda não é considerada uma especialidade odontológica e não possui cursos de formação no País, o que dificulta a sua aplicação nos hospitais brasileiros. Oliveira defende que a área seja de domínio do cirurgião-dentista, e aconselha cursos de prótese dentária para o CD que deseje abraçá-la. Segundo ele, a Odontologia brasileira, reverenciada internacionalmente como uma das melhores do mundo, tem potencial para ser um centro de excelência também em Anaplastologia no futuro. “Para tal, há uma urgente necessidade de cursos de especialização em prótese bucomaxilofacial, além de engajamento multidisciplinar por parte do cirurgião-dentista”, avalia. Para exemplificar, Oliveira afirma que cerca de 95% dos pacientes que necessitam de próteses faciais sofreram ou sofrem de câncer, o que aponta para a necessidade de qualificação do profissional em Oncologia.
Para ele, outra dificuldade a ser enfrentada é de ordem política. “O cirurgião-dentista que quer desbravar a Anaplastologia precisa ter em mente que vai enfrentar desafios que vão além de sua capacidade técnico-científica, como o descaso de nossas autoridades governamentais com pacientes mutilados”, alerta. O anaplastodontista e protesista bucomaxilofacial pela Universidade de Iowa (EUA), diz que, do ponto de vista tecnológico, o Brasil já se equipara a países desenvolvidos, como Suécia e Estados Unidos, mas lamenta pelo insucesso do País na assistência à saúde pública.
Rumo ao futuro com segurança
Até 1997, quando a osseointegração passou a ser aplicada à prótese bucomaxilofacial pelo médico sueco Per-Ingvar Branemark, a retenção de prótese era feita através de adesivos, retenção anatômica, tearas para próteses auriculares e óculos para próteses oculopalpebrais, sem resultados satisfatórios. Adesivos perdiam suas propriedades devido à umidade provocada pela transpiração da pele, e sua constante aplicação e remoção deterioravam as margens delicadas da prótese. Além disso, pacientes que necessitam de prótese facial costumam ter pele sensível, como aqueles expostos à radioterapia, e o uso prolongado de adesivo pode causar danos ao órgão. Já as tearas e os óculos não promovem boa adaptação da margem da prótese, podendo causar danos a ela.
A solução chegou com a utilização de materiais aloplásticos feitos de silicone e acrílico, implanto-suportados e retidos por magnetos. Para Oliveira, a tecnologia não deve ser superada tão cedo. “O uso de implantes e magnetos garante ótima retenção e estabilidade, assegurando maior autoconfiança e conforto para o paciente, facilita a instalação – o que é muito importante para idosos ou pessoas que não possuem boa destreza manual, uma vez que os magnetos promovem uma auto-instalação da prótese – e proporciona excelente adaptação marginal, pois permite confeccionarmos bordas extremamente finas”, explica.
Para ele, o futuro da Anaplastologia está intimamente ligado ao desenvolvimento científico e tecnológico de especialidades como a CTBMF e a Implantodontia. “Graças à evolução da técnica e das terapias de tratamento coadjuvantes, como a oxigenoterapia hiperbárica, por exemplo, hoje temos maiores taxas de sucesso”, exemplifica. Mas, apesar dos avanços, o anaplastodontista acredita que ainda há muito a ser desenvolvido. “As próteses duram de um a dois anos, e os pacientes precisam voltar ao profissional para refazê-las. Precisamos de silicones mais resistentes, ou outro material residuoso que proporcione próteses com tempo útil maior sem prejudicar a estética”, avalia. Como o sucesso da Anaplastologia depende, primeiramente, do sucesso da cirurgia, Oliveira vê no desenvolvimento de softwares que avaliam a quantidade de osso disponível outra grande promessa para a área. “Não só o tempo da cirurgia diminui como o procedimento é simplificado, uma vez que o cirurgião teve a possibilidade de visualizar a área a ser operada previamente”.

Radiografia mostra número e posições dos implantes faciais
O avanço mais recente nesse sentido é a prototipagem, ou biomodelagem, que permite ao cirurgião-dentista planejar cirurgias complexas utilizando uma réplica do crânio do paciente. Dessa forma, é possível ensaiar a cirurgia e confeccionar próteses sob medida, ampliando o sucesso das cirurgias guiadas por computador. Modelos virtuais criados a partir de imagens de tomografias e ressonâncias já têm proporcionado observações ricas em detalhes, em três dimensões e com diferentes texturas. Com o desenvolvimento da tecnologia, cada vez mais detalhes vêm sendo somados à análise, com separação de tecido e osso.
Por conta destes avanços, Oliveira acredita que a Anaplastologia vai continuar sendo a melhor opção de tratamento de pacientes com deformidades faciais por longo tempo. “Embora seja possível, já há alguns anos, transplantar rostos, há grandes controvérsias quanto ao impacto psicológico do procedimento e os efeitos adversos dos medicamentos contra a rejeição – especialmente em pacientes oncológicos, que tem sua saúde debilitada. O uso de células-tronco pode ser uma alternativa interessante, mas ainda estamos muito longe de algo concreto na área. A Anaplastologia tem se mostrado eficiente ao longo dos anos, e os avanços da área têm enorme grau de aceitação e segurança. Muito mais gente vai voltar a sorrir graças a ela”.
Fonte: Revista da ABO Nacional - Edição 91: Volume XVI - Nº 4 - Ago/Set 2008
Área de origem recente e ainda pouco explorada por cirurgiões-dentistas, a Anaplastologia tem ajudado o protesista bucomaxilofacial a reabilitar vidas, devolvendo a auto-estima a pacientes que perderam partes do rosto
Portadores de deformidades faciais devido a traumas, remoções cirúrgicas ou doenças congênitas têm experimentado o resgate de sua auto-estima graças a uma área da Odontologia que, de origem recente e ainda pouco explorada pelo cirurgião-dentista, tem impulsionado a CTBMF para o futuro com maior velocidade: a Anaplastologia, arte e ciência de restaurar partes ausentes ou malformadas do corpo humano através de meios artificiais, permitindo que os portadores de deformidades possam ser reintegrados à sociedade.
O alto grau de complexidade dos casos e a falta de tratamento adequado nas instituições responsáveis pela reabilitação de portadores de deformidades faciais motivaram o implantodontista e anaplastodontista Marcelo Ferraz de Oliveira, formado pelo Branemark Osseointregration Center, em Gotemburgo (Suécia), a desbravar a Anaplastologia quando a área ainda era vista como ficção científica. “Tenho trabalhado com Anaplastologia há 16 anos, e me sinto extremamente motivado a tentar melhorar a qualidade deste tratamento, bem como capacitar mais profissionais para que mais pessoas possam se beneficiar dele”, afirma. Com essa finalidade, Oliveira defende o envolvimento dos cirurgiões bucomaxilofaciais, responsáveis pelas cirurgias de instalação dos implantes osseointegrados sobre os quais são ancorados os componentes retentores das próteses. “Acredito que, no futuro, essa parceria seja ainda mais forte, uma vez que este tratamento, até então abandonado pelo poder público, vem demonstrando grande benefício e melhora tremenda na qualidade de vida dos pacientes reabilitados com próteses faciais implanto-suportadas”, anima-se Oliveira.

Anaplastodontista Marcelo Ferraz de Oliveira
A Anaplastologia, ainda não é considerada uma especialidade odontológica e não possui cursos de formação no País, o que dificulta a sua aplicação nos hospitais brasileiros. Oliveira defende que a área seja de domínio do cirurgião-dentista, e aconselha cursos de prótese dentária para o CD que deseje abraçá-la. Segundo ele, a Odontologia brasileira, reverenciada internacionalmente como uma das melhores do mundo, tem potencial para ser um centro de excelência também em Anaplastologia no futuro. “Para tal, há uma urgente necessidade de cursos de especialização em prótese bucomaxilofacial, além de engajamento multidisciplinar por parte do cirurgião-dentista”, avalia. Para exemplificar, Oliveira afirma que cerca de 95% dos pacientes que necessitam de próteses faciais sofreram ou sofrem de câncer, o que aponta para a necessidade de qualificação do profissional em Oncologia.
Para ele, outra dificuldade a ser enfrentada é de ordem política. “O cirurgião-dentista que quer desbravar a Anaplastologia precisa ter em mente que vai enfrentar desafios que vão além de sua capacidade técnico-científica, como o descaso de nossas autoridades governamentais com pacientes mutilados”, alerta. O anaplastodontista e protesista bucomaxilofacial pela Universidade de Iowa (EUA), diz que, do ponto de vista tecnológico, o Brasil já se equipara a países desenvolvidos, como Suécia e Estados Unidos, mas lamenta pelo insucesso do País na assistência à saúde pública.
Rumo ao futuro com segurança
Até 1997, quando a osseointegração passou a ser aplicada à prótese bucomaxilofacial pelo médico sueco Per-Ingvar Branemark, a retenção de prótese era feita através de adesivos, retenção anatômica, tearas para próteses auriculares e óculos para próteses oculopalpebrais, sem resultados satisfatórios. Adesivos perdiam suas propriedades devido à umidade provocada pela transpiração da pele, e sua constante aplicação e remoção deterioravam as margens delicadas da prótese. Além disso, pacientes que necessitam de prótese facial costumam ter pele sensível, como aqueles expostos à radioterapia, e o uso prolongado de adesivo pode causar danos ao órgão. Já as tearas e os óculos não promovem boa adaptação da margem da prótese, podendo causar danos a ela.
A solução chegou com a utilização de materiais aloplásticos feitos de silicone e acrílico, implanto-suportados e retidos por magnetos. Para Oliveira, a tecnologia não deve ser superada tão cedo. “O uso de implantes e magnetos garante ótima retenção e estabilidade, assegurando maior autoconfiança e conforto para o paciente, facilita a instalação – o que é muito importante para idosos ou pessoas que não possuem boa destreza manual, uma vez que os magnetos promovem uma auto-instalação da prótese – e proporciona excelente adaptação marginal, pois permite confeccionarmos bordas extremamente finas”, explica.
Para ele, o futuro da Anaplastologia está intimamente ligado ao desenvolvimento científico e tecnológico de especialidades como a CTBMF e a Implantodontia. “Graças à evolução da técnica e das terapias de tratamento coadjuvantes, como a oxigenoterapia hiperbárica, por exemplo, hoje temos maiores taxas de sucesso”, exemplifica. Mas, apesar dos avanços, o anaplastodontista acredita que ainda há muito a ser desenvolvido. “As próteses duram de um a dois anos, e os pacientes precisam voltar ao profissional para refazê-las. Precisamos de silicones mais resistentes, ou outro material residuoso que proporcione próteses com tempo útil maior sem prejudicar a estética”, avalia. Como o sucesso da Anaplastologia depende, primeiramente, do sucesso da cirurgia, Oliveira vê no desenvolvimento de softwares que avaliam a quantidade de osso disponível outra grande promessa para a área. “Não só o tempo da cirurgia diminui como o procedimento é simplificado, uma vez que o cirurgião teve a possibilidade de visualizar a área a ser operada previamente”.

Radiografia mostra número e posições dos implantes faciais
O avanço mais recente nesse sentido é a prototipagem, ou biomodelagem, que permite ao cirurgião-dentista planejar cirurgias complexas utilizando uma réplica do crânio do paciente. Dessa forma, é possível ensaiar a cirurgia e confeccionar próteses sob medida, ampliando o sucesso das cirurgias guiadas por computador. Modelos virtuais criados a partir de imagens de tomografias e ressonâncias já têm proporcionado observações ricas em detalhes, em três dimensões e com diferentes texturas. Com o desenvolvimento da tecnologia, cada vez mais detalhes vêm sendo somados à análise, com separação de tecido e osso.
Por conta destes avanços, Oliveira acredita que a Anaplastologia vai continuar sendo a melhor opção de tratamento de pacientes com deformidades faciais por longo tempo. “Embora seja possível, já há alguns anos, transplantar rostos, há grandes controvérsias quanto ao impacto psicológico do procedimento e os efeitos adversos dos medicamentos contra a rejeição – especialmente em pacientes oncológicos, que tem sua saúde debilitada. O uso de células-tronco pode ser uma alternativa interessante, mas ainda estamos muito longe de algo concreto na área. A Anaplastologia tem se mostrado eficiente ao longo dos anos, e os avanços da área têm enorme grau de aceitação e segurança. Muito mais gente vai voltar a sorrir graças a ela”.
Fonte: Revista da ABO Nacional - Edição 91: Volume XVI - Nº 4 - Ago/Set 2008