testeHoje em dia, não há quem nunca tenha ouvido falar nas pesquisas que envolvem células-tronco. Esse tipo de célula seria o correspondente à célula em seu estado inicial – sem forma nem função – e que dão origem a todas as outras células de nosso corpo. É exatamente a sua capacidade de diferenciação que faz essas células serem tão importantes. A novidade está no fato de que elas também podem ser encontradas nos dentes. A polpa dos dentes decíduos é extremamente rica em células-tronco.
O método de coleta foi descoberto pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH) e publicado em 2003 pela revista britânica de divulgação científica "New Scientist". Os projetos no Brasil envolvendo pesquisas com dentes de leite foram iniciados em 2004.
A questão ética
Quando falamos em células-tronco, não podemos deixar de lado a polêmica que envolve o assunto. As células-tronco estão muito relacionadas com a questão da clonagem, que nos leva do campo da ciência ao campo ético-religioso. Para se conseguir células-tronco embrionárias é preciso haver um embrião – como o próprio nome sugere. Esses embriões podem ser abortados ou provenientes de programas de fertilização in vitro. A produção de embriões em laboratório com a única finalidade de se fazer pesquisas gera muitas discussões no campo da ética. Afinal de contas, em que momento começa a vida? Na fecundação ou no nascimento?
As células recolhidas da polpa dos dentes de leite – quando se fala de questões éticas – são pouco comprometedoras, porque a coleta é feita em cima de material descartado. Elas se comportam como as células-tronco extraídas da medula óssea e do cordão umbilical, mas com uma vantagem: são encontradas em maior número e são mais fáceis de serem retiradas. Enquanto o cordão umbilical apresenta pouca quantidade de células-tronco, os dentes de leite têm uma quantidade bem superior. É só lembrar que uma pessoa – entre os 6 e os 12 anos de idade – perde uma “boca cheia” dessa fonte de células-tronco, que estariam indo para o lixo, ou para o telhado, ao invés de estarem sendo armazenadas.
O dente decíduo pode se tornar, no futuro, uma fonte alternativa para a obtenção de células-tronco, principalmente para as pessoas que não guardaram o sangue do cordão umbilical. Mas seria preciso criar um banco para essas células, porque elas permanecem vivas por um curto período depois que os dentes caem.
Células-Curinga
As células-tronco podem ser divididas em dois grupos: células embrionárias e células adultas. A diferença entre elas está na velocidade com que se transformam em outras células e no grau de diferenciação. Quanto mais nova a célula, maior será o número de células diferentes que ela poderá dar origem.
As células-tronco do dente de leite preservam características das células embrionárias, podendo se transformar em qualquer outro tipo de célula: sangüíneas, cardíacas, neurais, ósseas, hepáticas e formadoras de dentes. Ao contrário das células de dentes permanentes, que são células adultas, as SHED – células-tronco dos dentes decíduos – possuem uma capacidade muito maior de diferenciação, além de crescerem com mais velocidade, mostrando que as SHED estão em um estado mais imaturo.
A capacidade das células-tronco de se diferenciarem em outros tecidos é algo que chama a atenção dos cientistas. Muitos estudos vêm sendo feitos para observar a capacidade das células-tronco restaurarem tecidos danificados, e, dessa maneira, trabalhar em busca da cura de inúmeras doenças degenerativas – como o diabetes, o mal de Parkinson e a cirrose – além de problemas no rim e no coração, evitando os transplantes.
Um estudo comprovou que essas células, quando injetadas em camundongos, se incorporam ao fígado, rins e braços do animal, comprovando sua capacidade de diferenciação. Em outro estudo, uma quantidade de células-tronco de dentes decíduos foi aplicada em animais com cirrose. A área afetada foi reduzida de maneira considerável, o que produziu um melhor funcionamento do fígado. Novas pesquisas estão em andamento pra observar como as SHED agem junto a cardiopatias e doenças neurais.
Colocando em prática
As células-tronco possuem grande utilidade em cirurgias de implante. Em julho de 2005, uma equipe do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) realizou pela primeira vez no Brasil um implante dentário com células-tronco, utilizadas para auxiliar na reconstituição do tecido ósseo bucal. Os pesquisadores iniciaram o trabalho em 2002, depois de constatarem que era possível transformar as células-tronco em células osteoblásticas e desenvolvê-las sobre superfícies com colágeno.
A técnica utilizada pela equipe da PUC-RS pode ter duas finalidades: unificar osso e implante em uma mesma estrutura ou promover o crescimento do maxilar antes do implante. A equipe espera que, após a cirurgia, o crescimento ósseo se complete em aproximadamente 90 dias, enquanto o prazo – sem o uso das células – costuma chegar a 270 dias.
Para o futuro
Com o uso das células-tronco, o custo dos implantes convencionais – que já tem caído nos últimos anos – será barateado ainda mais.
O próximo passo é estudar as possibilidades de transformar essas mesmas células-tronco em tecido epitelial da gengiva. Mas, para que se alcance esse resultado, é preciso desenvolver outras técnicas.
Como a Ciência anda a passos largos, a equipe da PUC-RS já possui outro objetivo, um pouco mais ousado: eles esperam conseguir a constituição de dentes em laboratório a partir dessas células-tronco. A tarefa não será muito fácil devido aos diversos tecidos diferentes que formam os dentes, mas cientistas do mundo todo garantem que, em menos de dez anos, as dentaduras darão lugar a dentes de verdade. Vamos aguardar!
Hoje em dia, não há quem nunca tenha ouvido falar nas pesquisas que envolvem células-tronco. Esse tipo de célula seria o correspondente à célula em seu estado inicial – sem forma nem função – e que dão origem a todas as outras células de nosso corpo. É exatamente a sua capacidade de diferenciação que faz essas células serem tão importantes. A novidade está no fato de que elas também podem ser encontradas nos dentes. A polpa dos dentes decíduos é extremamente rica em células-tronco.
O método de coleta foi descoberto pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH) e publicado em 2003 pela revista britânica de divulgação científica "New Scientist". Os projetos no Brasil envolvendo pesquisas com dentes de leite foram iniciados em 2004.
A questão ética
Quando falamos em células-tronco, não podemos deixar de lado a polêmica que envolve o assunto. As células-tronco estão muito relacionadas com a questão da clonagem, que nos leva do campo da ciência ao campo ético-religioso. Para se conseguir células-tronco embrionárias é preciso haver um embrião – como o próprio nome sugere. Esses embriões podem ser abortados ou provenientes de programas de fertilização in vitro. A produção de embriões em laboratório com a única finalidade de se fazer pesquisas gera muitas discussões no campo da ética. Afinal de contas, em que momento começa a vida? Na fecundação ou no nascimento?
As células recolhidas da polpa dos dentes de leite – quando se fala de questões éticas – são pouco comprometedoras, porque a coleta é feita em cima de material descartado. Elas se comportam como as células-tronco extraídas da medula óssea e do cordão umbilical, mas com uma vantagem: são encontradas em maior número e são mais fáceis de serem retiradas. Enquanto o cordão umbilical apresenta pouca quantidade de células-tronco, os dentes de leite têm uma quantidade bem superior. É só lembrar que uma pessoa – entre os 6 e os 12 anos de idade – perde uma “boca cheia” dessa fonte de células-tronco, que estariam indo para o lixo, ou para o telhado, ao invés de estarem sendo armazenadas.
O dente decíduo pode se tornar, no futuro, uma fonte alternativa para a obtenção de células-tronco, principalmente para as pessoas que não guardaram o sangue do cordão umbilical. Mas seria preciso criar um banco para essas células, porque elas permanecem vivas por um curto período depois que os dentes caem.
Células-Curinga
As células-tronco podem ser divididas em dois grupos: células embrionárias e células adultas. A diferença entre elas está na velocidade com que se transformam em outras células e no grau de diferenciação. Quanto mais nova a célula, maior será o número de células diferentes que ela poderá dar origem.
As células-tronco do dente de leite preservam características das células embrionárias, podendo se transformar em qualquer outro tipo de célula: sangüíneas, cardíacas, neurais, ósseas, hepáticas e formadoras de dentes. Ao contrário das células de dentes permanentes, que são células adultas, as SHED – células-tronco dos dentes decíduos – possuem uma capacidade muito maior de diferenciação, além de crescerem com mais velocidade, mostrando que as SHED estão em um estado mais imaturo.
A capacidade das células-tronco de se diferenciarem em outros tecidos é algo que chama a atenção dos cientistas. Muitos estudos vêm sendo feitos para observar a capacidade das células-tronco restaurarem tecidos danificados, e, dessa maneira, trabalhar em busca da cura de inúmeras doenças degenerativas – como o diabetes, o mal de Parkinson e a cirrose – além de problemas no rim e no coração, evitando os transplantes.
Um estudo comprovou que essas células, quando injetadas em camundongos, se incorporam ao fígado, rins e braços do animal, comprovando sua capacidade de diferenciação. Em outro estudo, uma quantidade de células-tronco de dentes decíduos foi aplicada em animais com cirrose. A área afetada foi reduzida de maneira considerável, o que produziu um melhor funcionamento do fígado. Novas pesquisas estão em andamento pra observar como as SHED agem junto a cardiopatias e doenças neurais.
Colocando em prática
As células-tronco possuem grande utilidade em cirurgias de implante. Em julho de 2005, uma equipe do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) realizou pela primeira vez no Brasil um implante dentário com células-tronco, utilizadas para auxiliar na reconstituição do tecido ósseo bucal. Os pesquisadores iniciaram o trabalho em 2002, depois de constatarem que era possível transformar as células-tronco em células osteoblásticas e desenvolvê-las sobre superfícies com colágeno.
A técnica utilizada pela equipe da PUC-RS pode ter duas finalidades: unificar osso e implante em uma mesma estrutura ou promover o crescimento do maxilar antes do implante. A equipe espera que, após a cirurgia, o crescimento ósseo se complete em aproximadamente 90 dias, enquanto o prazo – sem o uso das células – costuma chegar a 270 dias.
Para o futuro
Com o uso das células-tronco, o custo dos implantes convencionais – que já tem caído nos últimos anos – será barateado ainda mais.
O próximo passo é estudar as possibilidades de transformar essas mesmas células-tronco em tecido epitelial da gengiva. Mas, para que se alcance esse resultado, é preciso desenvolver outras técnicas.
Como a Ciência anda a passos largos, a equipe da PUC-RS já possui outro objetivo, um pouco mais ousado: eles esperam conseguir a constituição de dentes em laboratório a partir dessas células-tronco. A tarefa não será muito fácil devido aos diversos tecidos diferentes que formam os dentes, mas cientistas do mundo todo garantem que, em menos de dez anos, as dentaduras darão lugar a dentes de verdade. Vamos aguardar!